...
_Eu estou com medo – disse ele tão baixo que ela quase não
ouviu.
_Medo? Por quê?
_Tenho medo do que estou sentindo e medo de não gostar de
descobrir quem eu sou na verdade.
A garota sabia do que ele estava falando, seus medos também
eram esses.
Ele olhou-a intensamente nos olhos por alguns segundos, mas
foi o suficiente para deixar a garota sem ar.
Sem qualquer aviso ele foi aproximando-se cada vez mais dela
e quando seus lábios a tocaram ela soube que ele não era um ser comum, humano
nenhum seria capaz de ser tão suave e intenso ao mesmo tempo em um beijo, mas
ela rendeu-se a seus sentimentos e apenas beijou-o com toda a energia de seu
ser.
Quando eles separaram-se ele sorriu para ela afetuosamente e
pegou sua mão beijando os nós de seus dedos.
_Eu não sei quem sou, nem de onde venho, mas eu sei o que
estou sentindo por você. Eu te amo, Catarina.
_Eu também te amo – disse ela num sussurro.
Beijaram-se longamente e por várias vezes até que ela,
contra a própria vontade disse que precisava ir dormir e eles separaram-se.
Como a vida era uma surpresa sem fim, como é que ela poderia
dizer a alguém que ela conhecia a apenas um dia que sentia por ele um amor tão
profundo quanto era possível? Catarina sempre acreditou que para sentir algo
daquela magnitude era preciso muito tempo de convivência e certas
características como as que todo mundo dizia, tinha que ser uma ideal de pessoa
pré-concebido, mas agora ela sabia que estava errada, que sempre estivera
errada.
Para amar alguém era preciso somente estar diante do amor de
sua vida e o sentimento nasceria com a rapidez de uma erva daninha.
Mesmo no auge de seus 17 anos ela sabia que nunca, mesmo em
toda uma existência ela sentiria aquilo por qualquer outra pessoa.
Sua mente enveredou por sonhos que estavam entre a
felicidade de estar com Miguel e o desespero do que a curandeira lhe falara.
A manhã seguinte amanheceu com chuva, uma chuva torrencial
com raios e trovões reverberando por toda parte.
Catarina acordou bem cedo, a tempo de fazer o café de seu
pai, mas, assim que abriu os olhos viu, próximo ao seu rosto um orquídea cor de
rosa com gotas da chuva, e um sorriso inundou seu rosto imediatamente.
Ela arrumou-se e saiu de seu quarto com a flor em mãos e
encontrou a mesa posta e Miguel sentado á porta fazendo carinho em Fiona.
Antes que ela dissesse qualquer coisa a porta do quarto de
Paulo abriu-se e ele surgiu terminando de abotoar a camisa.
_Bom dia, Miguel, bom dia, filha.
Eles tomaram o café em silêncio e pouco depois Paulo saiu
empolgado para suas pesquisas deixando Miguel e Catarina sozinhos.
_Como você entrou no meu quarto? – quis saber ela.
_É um segredo!
_Obrigada pela flor.
_Deixei-a perto de você para que ela visse como você é mais
bela do que ela.
Mais uma vez ele não comeu nada no café, mas ela afastou
tais pensamentos, não queria pensar em tais coisas naquele momento.
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